ATA DA DÉCIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLA­TIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 14.05.192.

 


Aos quinze dias do mês de maio do ano de mil novecentos e no­venta e dois reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Pri­meira Sessão Solene da Quarta Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às dezessete horas e vinte e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente de­clarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destina­da a homenagear o Estado de Israel, pelo quadragésimo quarto aniversário da Independência, conforme Requerimento nº 29/92 (Processo nº 385/92) do Vereador Isaac Ainhorn. A seguir, o Senhor Presidente convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Ple­nário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Dilamar Machado, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhores David Ephrati, Embaixador do Estado de Israel no Brasil; Bety Ephrati, Embaixatriz do Estado de Israel no Brasil; Deputado Flávio Koutzii, Representando a Assembléia Legislativa; Samuel Burd, Presidente da Federação Israe­lita do Rio Grande do Sul; Israel Lapchik, Presidente do Conselho das Entidades Judaicas do Rio Grande do Sul; Abrão Moreira Blumberg, Representando o Prefeito Municipal de Porto Alegre; Tenente-Coronel Carlos Sarmanho, Representando o Comando Geral da Brigada Militar; Julio Roberto Hocsmann, Secretário da Saú­de e o Vereador Isaac Ainhorn, Secretário “ad hoc”. Como extensão da Mesa: Senhores Cleomar Antonio Pereira Lima, da Assessoria de Relações Consulares da Secretaria da Justiça do Governo do Estado; Vereador Martim Aranha Filho, Secretário Substituto da Secretaria de Obras do Estado e Deputado Carlos Araújo, re­presentando a Bancada do PDT na Assembléia Legislativa. Em continuidade, o Senhor Presidente reportou-se acerca da solenidade e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Lauro Hagemann, em nome das Bancadas do PPS e PT, saudou os presentes e disse que não poderia deixar de ocupar a tribuna desta Sessão para homenagear o Estado de Israel. Vereador João Dib, em nome da Bancada do PDS, discorreu sobre a trajetória histórica que este Estado e seu povo viveu. O Vereador Isaac Ainhorn, proponente e em nome das Bancadas do PDT, PTB, PMDB e PL saudou os presentes e disse ser o Estado de Israel uma lição de amor, de abnegação, de sacrifícios e, acima de tudo, de coragem. Discorreu sobre fatos acontecidos no passado e que marcaram seu povo tão sofrido, mas que com obstinada ânsia de vencer têm dado um exemplo magnífico para todo o Mundo. Após o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor David Ephrati que agradeceu a homenagem prestada, fazendo rápido histórico sobre seu Estado. A seguir, o Senhor Presidente anunciou a apresentação do jogral do Colégio Israelita. Agradeceu aos jovens integrantes do Coral e anunciou a apresentação do Coral Kalaniou, sob a condução do Maestro Germano Schimtz, que apresentariam duas canções. Após, o Senhor Presidente agradeceu, em nome da Casa, a presença do ilustre Rabino Alejandre Lilienthal e dos demais presentes e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e trinta e um minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Dilamar Machado e secretariados pelo Vereador Isaac Ainhorn, Se­cretário “ad hoc”. Do que eu, Isaac Ainhorn, Secretário “ad hoc” determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e lº Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Senhoras e Senhores, a Câmara Municipal de Porto Alegre tem a honra, neste momento, de abrir os trabalhos desta Sessão Solene, a Requerimento do nobre Ver. Isaac Ainhorn, aprovada por unanimidade dos Vereadores desta Cidade, para homenagear o Estado de Israel pelo 44º aniversário de sua fundação. Em nome dos Vereadores do Legislativo da Cidade de Porto Alegre, Capital do Rio Grande do Sul, terra de Osvaldo Aranha, tenho a honra de dizer aos ilustres visitantes desta Casa que a mim, particularmente, na condição de Presidente do Legislativo, é um ato de extrema gratificação pela homenagem da história do povo de Israel e a própria colônia israelita do Rio Grande do Sul, com quem tenho tido o melhor relacionamento, a melhor afinidade e grande espírito de compreensão pela luta, pela saga e pela resistência do povo de Israel. Tenho a honra de comunicar a composição da Mesa: (Lê a nominata da composição da Mesa.)

Citamos ainda a presença do ilustre deputado Carlos Araújo, que representa, neste ato, a Bancada do Partido Democrático Trabalhista, e é seu líder na Assembléia Legislativa. Estendemos nossa saudação a todas as senhoras e senhores presentes.

Passaremos, agora, a ouvir o Hino Nacional e o Hino Nacional de Israel.

 

(São ouvidos os Hinos.)

 

O SR. PRESIDENTE: A partir deste momento, prestaremos nossa homenagem; teremos 4 oradores, a seguir o Embaixador do Estado de Israel, posteriormente, apresentação do Colégio Israelita e também do Coral. Com a palavra o Ver. Lauro Hagemann que falará em nome das Bancadas do Partido Popular Socialista e do PT.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente da Mesa e da Casa, Exmo. Sr. Embaixador do Estado de Israel no Brasil, Dr. David Ephrati, Ema. Sra. Embaixatriz Bety Ephrati, digníssimas autoridades da Mesa, senhoras e senhores, visitantes e Vereadores. O Partido Popular Socialista, sucessor e herdeiro do PCB, na sua tradição internacionalista não poderia deixar de ocupar esta tribuna na Sessão desta tarde, para saudar o Estado de Israel. A história há 44 anos resgatou uma dívida para com o povo israelense, e reparou os equívocos das diásporas. Isto para os brasileiros tem um sentido muito profundo, porque o nosso País, embora bem mais jovem, é a representação do que significa uma sociedade heterogênea, inclusive com a participação dos judeus que nos honram muito, que agradeceu este País, e sobretudo nosso Estado e Porto Alegre, daí a razão desta homenagem. Hoje, o mundo oferece aspectos novos de integração. Caíram algumas barreiras que foram constituídas desde o início do século, há um processo de distensão em andamento, caminhamos céleres para o final deste milênio da era cristã e estamos a poucos passos de ingressarmos numa outra etapa da vida internacional.

Essa condição de brasileiro, de observador imparcial dos fatos que se sucedem no mundo, permito-me fraternamente dirigir-me aos amigos judeus presentes nesta solenidade para dizer que a paz no mundo passa também pelo Oriente Médio, e principalmente pelo Oriente Médio, uma paz que nós, brasileiros, auguramos que perpasse pela passagem do segundo milênio da era cristã um sentido vigoroso, efetivo, para que a comunidade mundial possa andar com mais tranqüilidade no rumo de seu futuro. Essa paz, esse conceito, embora respeite as posições contrárias, passam pelas posições dos países que se deflagram naquela zona conturbada do Oriente Médio: palestinos, árabes, muçulmanos de um lado; judeus, de outro. Auguramos que essa paz possa ser encontrada e deve ser encontrada para que a humanidade respire com mais tranqüilidade. Essa paz, permito-me fraternalmente dizer, passa pelo respeito à existência do Estado de Israel e também pela concessão dos territórios que constituirão a terra palestina. Isso é uma meta a que se propõe o mundo, prestes a ingressar no ano 2.000; e que as fronteiras do Estado de Israel do ano de 1948 – portanto há 40 anos, isso é uma condição que nós também temos opositores no Estado de Israel, que esta existência seja garantida. Nesta direção, Srs. membros da Mesa e membros da colônia judaica, Vereadores e visitantes, o PPS se sente gratificado por participar desta reunião, saudar a existência do Estado de Israel como um membro da comunidade internacional, como fator de progresso no mundo, há milênios, não vou aqui ilustrar as excelências da contribuição judaica ao progresso da humanidade, que são muitas, inclusive o criador da doutrina em que me inspiro era um ilustre judeu. Esta é uma razão muito especial para que nós compareçamos a esta Sessão e saudemos a todos aqueles que desejam ver o Estado de Israel ingressar no ano 2000 da história Cristã, com a mesma disposição dos demais povos que desejam um futuro radiante para a humanidade. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. João Dib, que fala em nome da sua Bancada, o PDS.

 

O SR. JOÃO DIB: Excelentíssimo Sr. Vereador Dilamar Machado, Presidente da Câmara Municipal, eminente Embaixador do Estado de Israel no Brasil, Dr. David Ephrati; Exma. Sra. Embaixatriz do Estado de Israel no Brasil, Dra. Bety Ephrati; nobre Deputado Flávio Koutzii, representante da Assembléia Legislativa neste evento; Dr. Samuel Burd, Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul; meu colega e amigo de bancos escolares, Israel Lapchik, Presidente do Conselho das Entidades Judaicas do Rio Grande do Sul; caro amigo Abrão Blumberg, representando o Prefeito Olívio Dutra; Tenente-Coronel Carlos Sarmanho, representando o Comando-Geral da Brigada Militar; meu querido amigo Júlio Roberto Hocsmann, Secretário de Estado da Saúde; meu caro amigo Carlos Araújo, representando aqui a Bancada do PDT na Assembléia Legislativa; meu caro Mordko Meyer, nosso novo Cidadão de Porto Alegre; Srs. Vereadores; minhas Senhoras; meus Senhores; meus caros jovens.

Há exatamente um ano, nesta tribuna, eu dizia que nós falamos muito e construímos pouco; eu dizia do meu orgulho da minha ascendência árabe; também dizia do meu orgulho dos meus três filhos, filhos de uma mãe judia; e também dizia que não havia discriminação, na minha alma, de espécie alguma, quer fosse ela religiosa, política, social, racial, enfim, discriminação eu não entendo, eu acho que o mundo tem lugar para todos nós. E eu encerrava o meu discurso, e não citei o querido Rabino Alejandro Lilienthal, porque dele aprendi - e deixei agora para dizer - que nós tínhamos que dizer: SALAM; SHALOM; PAZ. E eu li algo que diz assim: “Ó paz formosa, ó suspiro universal dos mortais! Se os homens te conhecessem e zelassem mais por ti, a natureza voltaria a ter os seus direitos; haveria no mundo uma única família; o amor como árbitro a tudo governaria; e a terra deixaria de estar coberta de crimes nefandos.” Eu não visitei Israel. Tive um convite para isso, mas não tive oportunidade em razão dos encargos que me prenderam a esta Cidade naquele tempo e, portanto, também não vou falar nas excelências de Israel, porque os Senhores conhecem mais do que eu. O nosso Embaixador nos daria lições sobre a terra que ele representa aqui e cujo hino fez com que o casal ficasse profundamente sensibilizado, como de resto ficaram todos aqueles que integram a coletividade judaica, e até os que não a integram, pela música que toca na alma de cada um de nós. Mas, quero dizer que Jerusalém, que no dia 31 de maio, de acordo com o ano lunar, deve completar 25 anos da sua reunificação. Jerusalém, quer dizer cidade da paz, Uhr e Shalom! Não entendo por que não há paz no mundo. Era Prefeito quando ouvi o Engº Joal Telteibaum dizer que num quadrado, com 40 quilômetros de lado, cabe toda a população do mundo. Claro, que disto isso, eu que gosto de números me impressionei e mentalmente pensei: não pode! Fiz a conta, coloquei os zeros todos e, realmente, dava para colocar a população toda do mundo num quadrado de 40 quilômetros de lado! Vale dizer que na cidade em que nasci, Vacaria, coloco três vezes a população do mundo inteiro, e não entendo por que dizem que não temos lugar para todos, por que dizem que vamos ter falta de alimentos, por que vamos ter ar impuro, isto não entendo. Por isso, disse no meu discurso do ano passado: “falamos muito e construímos pouco, essa paz é indispensável e necessária para a segurança do mundo.” O Ver. Lauro Hagemann colocou muito bem, a paz há de vir do Oriente, porque lá é que está o problema, lá é que está a dificuldade e todos temos que somar os nossos esforços, temos que fazer tudo o que for possível para que ninguém seja pisoteado, para que ninguém seja massacrado, para que todos tenham paz, para que todos possam viver num mundo em que cabem todos, onde a solidariedade humana esteja presente em cada lar, onde não se gaste dinheiro com armamentos que poderiam ser usados na saúde e na educação. Isso é indispensável, é preciso que passemos atos positivos e que, depois, possamos dizer: “cada rosto é um povo, cada povo é um homem, cada homem um irmão, cada irmão tem um nome, cada nome: Cidadão Universal”! Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Antes de passar a palavra ao próximo orador, a Mesa registra e considera extensão da própria Mesa a presença do Dr. Cleomar Antônio Pereira Lima, que é Assessor de Relações Consulares da Secretaria da Justiça do Governo do Estado. Igualmente, o Ver. Martim Aranha Filho, Secretário-substituto da Secretaria de Obras do Estado e descendente em linha direta de Osvaldo Aranha, cuja história e participação da fundação do Estado de Israel é de todos nós conhecida.

Com a palavra o proponente deste ato, o ilustre Ver. Isaac Ainhorn, que fala em nome da Bancada do seu Partido, o PDT, do PMDB, do Partido Trabalhista Brasileiro e do Partido Liberal.

 

O SR. ISAAC AINHORN: (Menciona os componentes da Mesa.) Senhores: Rabino Alejandro Lilienthal, Ver. Artur Zanella, Ver. Martim Aranha Filho, prezados colegas, Senhoras e Senhores.

O Estado de Israel, cuja Independência faz, hoje, 44 anos, é perene lição de amor, de abnegação, de sacrifícios e, acima de tudo, de coragem. E, neste momento, quando nosso País percorre ásperos, difíceis e complexos caminhos na área da economia, Israel nos traz o exemplo da sua vitoriosa luta contra a inflação que chegou a beirar casa de mais de 1000% que foi vencida graças a um pacto social com seu povo, que soube com galhardia colocar-se acima dos interesses privados momentâneos.

Mas, a história de Israel não começa em 1948, ela tem início há cerca de 3800 anos com o Patriarca Abraão. E dali começou a longa migração do Patriarca para a terra de Canaã. Ainda nos dias de hoje a rede de estradas, todas de excelente qualidade que corta o País, muitas vezes acompanham as antigas rotas e trilhas. Palmilha-se assim os mesmos caminhos que Patriarcas e Profetas Hebreus percorreram ao longo dos séculos.

Israel na antiga história do seu povo legou à humanidade cultura e tradição, ainda hoje admiradas através dos livros sagrados – a TORÁ e o TALMUD – contribuiu, à farta, às modernas técnicas científicas de nossa terra. De Moisés a Bem Curion, a Shimon Perez e Shamir, passaram-se séculos, mas vivos estão os princípios libertários que foram traçados neste tempo: a constante luta em vigília contra o racismo, contra a discriminação e a defesa intransigente dos Direitos Humanos para as minorias de todo o mundo.

Não se faz isto sem trabalho, sem desprendimento, sem amor à liberdade. E esta, já afirmei em outras ocasiões, não se ganha, se conquista.

Podemos afirmar, sem erro, que a vida do Estado de Israel confunde-se com a história do povo judeu, marcada por lutas, dores e sofrimentos, mas, sobretudo, plena bravura e indômita vontade de vencer.

Os judeus na diáspora jamais deixaram de se referir à Palestina como sua terra, embora seu território tenha sofrido conquistas de diversos povos até chegar ao mandato britânico e finalmente conquistar a sua Independência em 1948.

Através dos séculos, os judeus lutaram para seu retorno à terra de seus antepassados e reconquistaram condição de Estado, notadamente ao final do século XIX quando o movimento ganhou vigor sob a liderança de Theodor Hertzl.

Sob o mandato britânico, após a 1ª Grande Guerra a declaração de Balfourd em 1917 reconheceu o direito do povo judeu em construir na Palestina seu lar nacional.

As perseguições aos judeus na Europa, que muitos teimavam em negar, na Alemanha e em outros países da Alemanha Oriental, a cada dia aumentavam com leis discriminatórias de todo o gênero. A ascensão de Hitler era fato questionável. A frágil estrutura política alemã abriu espaços para os desígnios autoritários de Hitler que sensibilizava até os liberais da época sob o pretexto de salvar o mundo do comunismo internacional. A partir de 1933, - anos fatídicos para a Alemanha, para a Europa e para o mundo, - as coisas começaram a mudar, ascensão hitleriana alastrava-se como um furor voraz e encontrou nos judeus o seu bode expiatório. Primeiramente, isolando-os da sociedade ariana para uma fase seguinte confiná-los em campos de concentração, onde seis milhões de judeus foram cruelmente exterminados nas câmaras de gás do grande império nazista transformando-se no maior e mais hediondo genocídio da história dos homens. Os fatos devem ser lembrados sempre por todos os homens de bem e amantes da paz, independentemente das suas convicções políticas e ideológicas e que acreditam firmemente numa democracia pluralista para que fatos como estes não se repitam jamais com qualquer povo.

Finalmente, passada a Guerra, a 29 de novembro de 1947, a Assembléia Geral da Nações Unidas, aprovou uma resolução que determinava a criação de um Estado Judeu, na Terra de Israel ao lado também de um Estado Palestino, conferindo a este povo, ao povo judeu o direito natural de ser como os demais povos, dono de seu destino e seu Estado soberano, assim como os demais Estados.

O fato que nos enche de orgulho e satisfação é que aquela célebre Sessão foi presidida pelo insigne rio-grandense Osvaldo Aranha – que tem, como disse o Ver. Dilamar Machado, com o Ver. Aranha Filho, uma linhagem direta de parentesco.

Cumprindo a determinação da Organização da Nações Unidas, David Ben Gurion, a 14 de maio de 1948, declarou a Independência do Estado de Israel.

E Bem Gurion, naquela oportunidade, usando da palavra sob forte emoção, com a voz embargada proferiu as seguintes palavras: “Nós, membros do Conselho do Povo, representantes da comunidade judaica, da Terra de Israel e do Movimento Sionista, estamos aqui reunidos em virtude do nosso direito natural e histórico. E por força da Resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas declaramos o estabelecimento do Estado Judeu em Eres Israel a ser conhecido como Estado de Israel”. Era o reencontro perseguido durante séculos pelos judeus, com seu destino e com o seu lar nacional. Desde então a despeito de ter que manter várias batalhas e guerras e enfrentando dentro do seu próprio território sérias invasões e incursões terroristas de toda espécie no curso de sua curta existência, ainda assim o Estado de Israel mantém a sua tradição democrática e pluralista. Israel de hoje é uma realidade cuja pujança e desenvolvimento  são facilmente observáveis. Ora, cercado, muitas vezes de inimigo, seu povo não se intimida e busca a todo custo e com toda sua força a paz que almeja acima de todas as coisas. Shalon é sem dúvida a palavra mais pronunciada e que se busca concretizar na Nação Israelense. Os 44 anos do Estado de Israel trazem a marca registrada dos judeus de todo mundo: o sofrimento, a luta, a coragem. O novo Estado já tem marcas, profundas de guerra. Seu solo está cheio de sepulturas de seus filhos. O sangue de israelenses já molharam a terra prometida. Não obstante, a férrea vontade de seu povo, a obstinada ânsia de vencer, característica do povo judaico, tem dado a este País resultados magníficos que servem já de exemplo para todo mundo.

O Partido Democrático Trabalhista da Câmara Municipal de Porto Alegre, que ora represento nesta justa homenagem à independência de Israel, congratula-se com a nação israelense e almeja, de todo o coração, que ela continue.

Por último quero também registrar 3 fatos importantes: 1) A decisão da Câmara em transformar em Lei aquilo que já era um costume, já era uma tradição, e a boa lei é aquela que consagra uma tradição, que consagra um costume, de transformar em Lei, a homenagem permanente, no dia 14 de maio, uma Sessão em homenagem ao Estado de Israel. De outro lado ainda, dois fatos que julgo extremamente importantes. O primeiro deles é que ocorreu exatamente no interregno de tempo entre a comemoração do ano passado e este 14 de maio. É a decisão da ONU, Organização das Nações Unidas, no ano passado, que revogou a odienta resolução que considerava o sionismo uma força de racismo. Felizmente, desta vez, o voto favorável da chancelaria brasileira a esta resolução que afastou da ONU aquela odienta manifestação. De outro lado, também outro fato que julgamos extremamente alvissareiro e importante para a paz que todos perseguimos, como disse aqui o Ver. João Dib, fato igualmente ocorrido no mesmo interregno: passados todos estes anos, sentam-se à mesa, para uma negociação de paz, judeus e palestinos, na busca de resolver seus conflitos. Nós sabemos que o caminho é árduo, que o caminho é difícil, mas esta primeira semente foi plantada com este encontro de paz realizado na Espanha. Por isso, estes três fatos, por si só, fazem desta Sessão uma Sessão diferenciada. E com muito orgulho nós podemos dizer hoje que esta Sessão é uma lei na Cidade de Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Tenho a honra de conceder a palavra, para falar em nome do Estado de Israel, ao ilustre Embaixador do Estado de Israel no Brasil, Dr. David Ephrati.

 

O SR. DAVID EPHRATI: (Menciona os componentes da Mesa.) Senhoras e Senhores. Agradeço pelo honroso convite para participar juntamente com vocês deste ato significativo, no marco das comemorações do quadragésimo quarto aniversário da independência do Estado de Israel.

A epopéia, as circunstâncias do nascimento de Israel já fazem parte da história, antiga e moderna. Entretanto é preciso lembrar e relembrar os fatos, porque às vezes, a memória humana é curta e seletiva demais. Israel nasceu sendo atacado, agredido por exércitos Árabes bem organizados e bem armados, no que foi uma verdadeira luta defensiva de David contra Golias. De uma parte seiscentos mil judeus, homens, mulheres, crianças e velhos, pobremente armados, enfrentando uma massa de cento e cinqüenta milhões de inimigos, que inscreveram nas suas bandeiras o lema da eliminação de Israel. Foi uma luta desigual dos poucos contra a multidão. Os poucos e os justos venceram, graças à sua fé, ao seu heroísmo milenar, graças à força do desespero e com a ajuda do Deus de Israel.

Desde então, Israel teve que defender-se de guerras repetidamente provocadas, sempre com o mesmo objetivo de sua aniquilação e contra a vil luta terrorista, que continua até estes dias, culminando com sua última demonstração trágica: o atentado à embaixada em Buenos Aires. E lembremo-nos também da Guerra do Golfo, que golpeou Israel, embora não envolvido, com um saldo de vítimas e destruição.

Mas os ataques contra Israel obtiveram resultados opostos. Israel reforçou-se, construindo uma força de dissuasão respeitada, uma sociedade sã do ponto de vista econômico-social, desenvolveu uma ciência e uma tecnologia mundialmente reconhecida e absorvendo a imigração contínua de judeus de vários rincões e, muito especialmente, a redenção dos judeus da Etiópia e a imigração de centena de milhares de judeus da então União Soviética.

No último ano a atmosfera no Oriente Médio mudou. O processo de paz que iniciou-se com a conferência de Madrid continua – representantes dos Estados Árabes Palestinos negociam diretamente com representantes de Israel, com o objetivo de alcançar uma paz, uma convivência entre os povos da região. A paz talvez ainda esteja distante, mas não é impossível, e a direção dos ventos no Oriente Médio mudou. Ainda teremos momentos, às vezes negativos e às vezes positivos, como em qualquer negociação de tal complexidade, mas o rumo do barco vai em direção certa. Portanto, Israel pode olhar para trás com orgulho e para o futuro com esperança.

Senhoras e Senhores, esta festa de independência tem como tema especial, nossa capital Jerusalém, porque coincide com o vigésimo quinto aniversário de sua reunificação, como resultado da histórica guerra dos “seis dias”.

Jerusalém, desde o Reino de David, três mil anos atrás, foi a capital espiritual, histórica e eterna do povo judeu e de sua pátria.

Jerusalém foi reunificada sob o fogo e as chamas abrasadoras de uma guerra que nos foi imposta, a qual Israel tentou evitar de todas as formas. Uma guerra que teve, nas palavras repetitórias de Abdul Nasser, então Presidente do Egito. Cito:

“Como seu objetivo declarado e fundamental a destruição de Israel.”

Nessa guerra, iniciada em junho de 1967, uniram-se novamente o Egito, a Síria, a Argélia, o Marrocos, o Iraque, o Kwait e a Árabia Saudita, como também a Jordânia, que assinou uma aliança com o Egito. Todas estas forças convergiam em direção a Israel, ao mesmo tempo em que efígies de Israel eram enforcadas no Cairo e nas demais capitais Árabes, como aviso à população civil de Israel, juntamente com inflamados discursos por parte das lideranças Árabes, fomentando a sede de sangue de Israel – tudo uma monstruosidade absurda, tão real e perigosa.

Então, e não pela primeira vez, o mundo estava mudo em se tratando do povo judeu, e haviam aqueles que, silenciosamente, preparavam seus discursos necrológicos para Israel. Sem embargo, Israel surpreendeu seus adversários e seus amigos, comprovando sua habilidade em defender-se. Em uma guerra de defesa brilhante, talvez única na história de Israel e no mundo, derrotou em seis dias seus agressores. Israel estabeleceu novas linhas de defesa, mais lógicas e temíveis, unificando para sempre Jerusalém e pondo fim à ocupação Jordaniana da Cidade Santa.

Poucos dias depois, o governo de Israel ativou a lei de proteção aos lugares santos, garantindo o livre acesso aos santuários de todas as religiões, à liberdade de culto, autonomia interior e administrativa dos vários grupos religiosos e introduzindo penalidades contra os profanadores de lugares sagrados – todas estas, medidas não existentes sob a ocupação Jordaniana.

No mesmo período, o Knesset (parlamento), estendeu a lei de Israel a todas as partes de Jerusalém, declarando: “Jerusalém é a Cidade indivisível, a capital do Estado de Israel.” Esta lei foi reforçada em 1980, através da lei adicional, ratificando a reunião de Jerusalém como a capital eterna do Estado de Israel e a aplicação na mesma, da lei de Israel.

Israel reconhece o caráter universal de Jerusalém e, ao contrário da ocupação Jordaniana, tudo fez para estimular a convivência entre as três grande religiões monoteístas do mosaico religioso de Jerusalém.

Nenhuma outra religião e nenhum outro povo tem um laço tão abrangente e forte com esta cidade como o povo Judeu, como bem expressou sua santidade o Papa João Paulo II (20/04/84). Cito:

“Para os judeus, Jerusalém é objetivo de profundo amor, repleta de vestígios de muitas gerações e riquezas de memórias, que datam desde o tempo de David, o qual o escolheu como sua Capital, e onde Salomão ergueu o templo, desde então, seus olhos se fixaram nela...dia após dia, eles a enalteceram como símbolo de sua Nação.”

Jerusalém para todos nós é tudo isto e mais: é sinônimo da terra e do povo de Israel. Ela é denominador comum do povo de Sion e do povo que reside nas Diásporas.

Desde sua reunificação, Jerusalém foi desenvolvida com um amor que só os verdadeiros filhos são capazes de dar, com um cuidado incomparável para a preservação de seu caráter. Hoje, ela resplandece em sua beleza e harmonia de formas, e esperamos que chegue o dia em que a convivência e a paz entre Judeus e Árabes, entre o Estado de Israel e os Estados Árabes, voltem a simbolizar a Cidade da paz e do entendimento entre grupos étnicos, como disse o profeta Isaías (66:10-12)

“Regozijai-vos com Jerusalém e alegrai-vos por ela, vós todos que a amais, enchei-vos por ela de alegria, todos os que por ela pranteastes...porque assim diz o Senhor, eis que estenderei sobre ela a paz como um rio, e a glória das Nações como um ribeiro que transborda.” (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Senhoras e Senhores, dando seqüência a este ato, nós teremos a alegria de acompanhar a apresentação do jogral do Colégio Israelita, que declamará uma poesia hebraica, do poeta Nathan Aitermann, tradução da poetisa brasileira Cecília Meireles, cujo título traduzido é “Bandeja de Prata”.

(Apresentação do jogral.)

 

O SR. PRESIDENTE: Agradecemos aos jovens integrantes do Coral do Colégio Israelita, anunciamos, em seguida, o Coral Kalaniou que se apresentará sob a condução do Maestro Germano Schimtz.

 

O SR. GERMANO SCHIMTZ: O Coral Kalaniou sente-se honrado em estar presente nesta homenagem e vamos cantar para todos os presentes.

 

(Apresentação do Coral.)

 

O SR. GERMANO SCHIMTZ: A seguir, a segunda música, do folclore brasileiro, com arranjo de Ricardo Takochian (sic), “Viola”.

 

(Apresentação do Coral.) (Palmas.)

 

O SR. GERMANO SCHIMTZ: A última música é do cancioneiro israelita, com arranjo de Débora Katz.

 

(Apresentação do Coral.)

 

O SR. PRESIDENTE: Senhoras e Senhores, em nome da Câmara Municipal, agradeço a presença do ilustre Rabino Alejandro Lilienthal; Dr. Israel Lapchik; Cel. Carlos Sarmanho, que aqui representou o Comando-Geral da Brigada Militar; Dr. Samuel Burd; companheiro Abrão, representando o Sr. Prefeito Olívio Dutra; nosso ex-colega e agora Deputado Flávio Koutzii; ilustre Senhor Secretário de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, Dr. Júlio Hocsmann, particularmente participam da honra desta Casa em ter acolhido nesta tarde, nesta homenagem extremamente honesta ao Estado de Israel, o ilustre casal David Ephrati, a quem agradecemos pela honra de suas presenças.

Ao encerrarmos esta Sessão, pedimos que Deus nos permita que, por muitos anos, todos, possamos comemorar mais um ano de aniversário do Estado de Israel, como um Estado livre e soberano, independente.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h31min.)

 

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